sexta-feira, 18 de agosto de 2017

RESENHA DA HQ MALDITO SERTÃO



No recente evento do Sexto Cuscuz HQ ocorrido no sábado, 05 de Agosto de 2017, eu adquiri como minha nova aquisição a HQ MALDITO SERTÃO. 


















Uma produção de quadrinistas da terra potiguar. Publicado em 2016, adaptado de um livro de Márcio Benjamin, por cinco roteiristas compostos  por Renato Medeiros, Rodrigo Xavier, Mario Rasec e o casal Leandro e Cristal Moura. Que formam o grupo do Coletivo Quadro 9 em parceria com Ao Quadrado, selo  de quadrinhos  potiguar pertencente a Jovens Escribas. Responsável pela publicação original da obra em 2012. Neste material grande contendo 36 páginas, com 28 metros de comprimentos por 21 de largura, com capa de formato cartonada com orelhas contendo um texto descritivo sobre a obra, impressa em papel pólen bold 90G/M2 e brochura quadrada.  Contendo nove histórias que narram os contos de terror ambientados no sertão nordestino, ou seja, uma obra ambientada em um cenário bucólico, trazendo vários elementos do folclore brasileiro como a Mula-Sem-Cabeça, Papa-Figo, Lobisomen entre outros com uns toques fantasiosos de escapismo. Cada um desses contos contidos na obra foi adaptado por um dos cinco roteiristas. Renato Medeiros foi responsável por adaptar três dos nove contos apresentados na HQ, que são O Oratório, A Sombra da Cruz e A Procissão do Nosso Senhor Morto. Sendo que apenas neste ele assumiu a responsabilidade tanto de adaptar o roteiro quanto de ilustrar. Nos outros ele apenas fez o roteiro e deixou encarregado de ilustrar Cristal Moura em O Oratório e Rodrigo Xavier em A Sombra da Cruz. Já Mário Rasec é quem dos cinco ficou encarregado de adaptar a maior parte das histórias contidas na HQ do primeiro ao último que são Casa de Fazenda,  A Mata, Fome Materna(Estradinha de Barro) e BR-101. Onde em boa parte ele tanto roteiriza quanto ilustra, com exceção de Fome Materna, que foi onde ele apenas roteirizou, quem ficou encarregado de ilustrar foi Leandro Moura. O mesmo participa da obra adaptando tanto no roteiro quanto na ilustração de  A Gruta e Rio Abaixo. Cada um dos cinco roteiristas responsáveis pela HQ tiveram suas respectivas liberdades criativas com carta branca do Márcio Benjamin, construindo com suas próprias licenças poéticas ao modificar elementos do formato de conto do livro que pudessem se adequar na narrativa quadrinesca. O próprio autor gostou do resultado e até participou da obra escrevendo o texto de apresentação. Sobre a técnica de traçado usada para ilustrar as cenas quadro a quadro da narrativa da HQ, cada um se utilizou de um modelo diferente que criasse toda a atmosfera sombria e barra pesada da obra para dar o toque amedrontador em sua identidade visual. Mario Rasec e Leandro Moura optaram por recorrer a aquarela e ao nanquim, para colocar uma atmosfera pastosa, proporcionando ao leitor um tom de melancolia agonizante. Já o Renato Medeiros, Rodrigo Xavier e Cristal Moura, optaram por desenhar apenas no nanquim mesmo com o intuito de aproximar de “um terror noir dos mestres da Creepy, Cripta do Terror e de Hqs dos anos 80”, como bem me contou o Renato Medeiros ao colher estas informações diretamente com ele no Facebook utilizando sempre de paletas de cores  escuras que bem remetem as ilustrações dos cordéis criando um tom bem amedrontador a obra e com uma alta carga dramática. Quando perguntei ao Renato Medeiros sobre qual das três histórias que ele adaptou foi a que lhe deu mais trabalho, ele respondeu o seguinte: “Penso que o mais trabalhoso foi o da Cristal, O Oratório porque tive de adaptar um conto macabro para o traço da Cristal que é um traço limpo e elegante. Tivemos que dá um teor de conto fantástico  ao mesmo tempo de remeter a ideia de xilogravura. Não foi fácil mas creio que a Cristal conseguiu dá o tom correto. Penso que a outra seria A Procissão do Nosso Senhor Morto pelo pouco tempo que tive para fazer uma arte final mais caprichada, como não sou ilustrador como os demais sofri bastante.”  Já quando questionei ao Rodrigo Xavier, que participou da obra apenas como ilustrador em A Sombra da Cruz, que teve o roteiro adaptado pelo Renato Medeiros entre roteirizar e ilustrar qual que ele achou o mais difícil, ele me respondeu da seguinte forma: “Não tive nenhuma experiência em roteiro ainda, mas acredito que as duas tenham suas dificuldades. No caso do roteiro, uma história deve ser boa pra se sustentar. No caso do desenho, a dificuldade está mais na narrativa que deve ser clara pra que o leitor compreenda o que está acontecendo e não fique confuso.” Leandro Moura que assina as adaptações de A Gruta, Rio Abaixo e Fome Materna neste onde ele só ilustra, ao ser questionado por mim sobre qual foi a mais trabalhosa dele produzir ele me explicou assim: “Bom, em termos de pesquisa foi Fome Materna, uma vez que se tratava de uma história com uma ambientação no passado(década de 1980), e por isso, alguns elementos como tipo de  carro, casarão(real da Viúva Machado) e/ou roupas do período. Porém, o conto original, Rio Abaixo é bem surreal e ao mesmo tempo denso demais, o que coube fazer uma adaptação muito diferente, mas ainda aterrador. A Gruta foi a primeira história a ficar pronta, provavelmente um ano antes da “oficialização” do anúncio da editora Jovens Escribas nos meios de comunicação. Tentei captar numa única página(splash pages) a tensão e desespero no conto original, que por sinal um dos mais assombrosos do livro. Enfim cada um tem suas particularidades, mas se for para escolher um então fico com Fome Materna pela pesquisa citada que incluem fotos de necrotério, matérias sobre pessoas desaparecidas, lendas sobre o bicho-papão etc..” Quanto a Mario Rasec ao ser perguntado sobre a maioria das histórias  contida na edição que ele  adaptou qual foi a que ele sentiu ser mais trabalhosa de adaptar ele descreveu com estas palavras: “Casa de Fazenda deu um pouco mais de trabalho em roteiro e um pouco na ilustração porque, para essa HQ eu utilizei bastante referência fotográfica para deixar o desenho mais realista possível. Das escolhas do cenário aos personagens contei com ajuda de outros participantes da adaptação para servir de modelos para fotos que utilizaria como referência. Mas, no geral, embora eu tivesse todo esse "trabalho" de pesquisa visual, o processo não deixou de ser prazeroso. Considerei um desafio e um avanço na minha técnica de ilustração. Acho que todos ganharam com isto, os leitores e eu por ter evoluído mais um pouco na minha arte. A Mata, na ilustração deu também mais trabalho. Foi a primeira que ilustrei e pedi ajuda dos amigos para recriar posições para fotos de referência. Mas foi um processo muito divertido. Em  Casa de Fazenda eu ainda tive que procurar referencias para a tal casa e os cachorro morto no começo. Por isto, considero Casa de Fazenda um processo mais trabalhoso. Além do roteiro que procurou algo que não fosse uma cópia da história original e nem que mudasse sua essência. Não sei se quanto a roteiro eu fui bem sucedido. Mas foi um aprendizado a mais para futuras adaptações.” Já Cristal Moura cuja participação na obra foi apenas para ilustrar O Oratório, ao ser questionada sobre qual parte do enredo foi mais trabalhoso para de ser desenhado  durante toda a etapa de produção ela me respondeu: “Durante a produção de O Oratório tive dificuldades em desenhar e esboçar cenas internas, por conta da perspectiva, uma vez que pensei no desenho inspirado nas xilogravuras, um desenho mais simples e com uma carga emocional. Aprendi muitas coisas novas durante o processo de pesquisa e de desenho, percebi que me identifico com a arte final com bico de pena e também com aguada em nanquim.”  De todo jeito, posso resumir que apesar de toda a  ralação que eles enfrentaram para adaptarem o enredo dos contos  de um livro em formato de quadrinho, tanto no aspecto de roteiro quanto nas ilustrações das cenas, de todo jeito o resultado final ficou magnifico, uma verdadeira obra de arte que se você é de  apreciar este estilo, recomendo a leitura. Já se você não tiver  estômago  para ver as cenas ilustradas fortes e barras pesadas  contidas na obra, então recomendo não a adquirir.   Ela tem disponível na loja da Pandora Geek localizado na Zona Norte para quem reside aqui em Natal/RN. Ou seja, posso resumir que essa HQ é massa, foda.

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