REVISITANDO
A VERGONHA ALHEIA DA INFÂNCIA.
Durante
o melancólico 2020, marcado pelo pânico causado pelo Coronavírus, eu que fiquei
sem sair de casa e não retomei nem para uma ida para o cinema depois que as salas
foram reabertas, me sobrou conferir um pouco da Netflix. E neste período eu dei
uma revisitada numa série que eu assistia muito quando criança na TV Globo e
depois de reassistir pude constatar bem com um tom de estranheza muitos anos depois como
ela envelheceu mal. Estou me referindo a VR TROOPERS(EUA,
1994-1995).
Uma
adaptação americana da Saban Enterteniment de três séries japonesas do gênero tokusatsu, que
compõe a franquia metal hero. Ambas da
década de 1980 que originalmente já tinham sido exibidas no Brasil como Guerreiro
Dimensional Spielvan(Jikuu Senshi Spielban, Japão, 1986-1987) e Metalder-O
Homem Máquina(Chōjinki Metarudā, Japão, 1987-1988). Com a inserção na
segunda temporada do Policial do Espaço Shaider('Uchū Keiji
Shaidā', Japão, 1984-1985).
A
ideia da produtora de fazer essa adaptação aconteceu como consequência do
sucesso de Mighty Morphin Power
Rangers(EUA,1993-Atual) uma adaptação da série japonesa super sentai Kyōryū
Sentai Zyuranger(Japão, 1992-1993). Uma realização de um antigo desejo
de exportar tokusatsu para o Ocidente, através dessas adaptações.
Já
que lá pelo final dos anos 1970, Stan Lee(1922-2018) criador do Universo Marvel cedeu o Homem-Aranha para ser adaptado pela
Toei numa série tokusatsu, lançada em 1978, como forma de atrair o mercado
asiático, com características bem
típicas dos japoneses que envolviam o Homem-Aranha encarar monstros que se
agigantavam e chamar um robô gigante Leopardon para enfrenta-los. Isso passou
a ser colocado na franquia Super Sentai, série dos super esquadrões criadas por Shotaro
Ishinomori(1938-1998), o cabeça da franquia Kamen Rider, a
partir de 1975 com Himitsu Sentai Gorenger(1975-1977), e que a
partir da terceira série da franquia que foi Battle Fever J (1979-1980),
que contou com a participação direta do próprio Stan Lee é que foi inserido o
Robô Gigante que permanece até hoje. Foi
Lee quem tentou trazer para o Ocidente bem antes do empresário
israelense, nascido no Egito, Haim Saban vim a adaptar Super Sentai para Power
Rangers para o Ocidente no começo dos
anos 1990.
Como
bem foi mostrado no episódio da terceira
ou quarta temporada da série documental da Netflix, Brinquedos Que Marcaram Época(The
Toys That Made Us, EUA, 2017-2019). Ao entrevistarem a produtora de TV Margareth
Loesch, responsável por produzir grandes desenhos com a Marvel Productions, que foi com quem Lee mostrou o material da série
Taiyou Sentai Sun Vulcan (Japão, 1981-1982) e quando ela apresentou o
material editado aos executivos de
muitas emissoras, a maioria detestou,
achou a produção de qualidade questionável, brega, com efeitos especiais capengas
enfim.
Isso
fez Lee terminar desistindo do projeto, anos depois em 1984, Saban que na época
já estava envolvido no ramo do
entretenimento sendo responsável por produzir jingles de séries animadas famosas,
como a de He-Man, Inspetor Bugiganga entre outros desenhos famosos dos anos 1980. Tinha feito uma viagem
ao Japão e ao assistir na TV do seu quarto de hotel, havia ficado
impressionado ao se deparar com a então série super sentai em exibição na
TV Asahi que foi Choudenshi Bioman(Japão,1984-1985), série que
antecedeu ao famoso Esquadrão Relâmpago Changeman(Degenki Sentai
Changeman, Japão, 1985-1986), que passou aqui no Brasil entre o final dos anos
1980 e começo dos anos 1990, sendo distribuído pela Everest Vídeo. E que recentemente passou na
Band durante essa quarentena da Pandemia do Covid-19.
Ao
se deparar com essa série, Saban teve a ideia de tentar adapta-la para Power
Rangers antes de Zyurangers. Chegou a fazer um esboço, escalou o elenco, gravou
um piloto não indo para frente até finalmente ver o seu sonho ser concretizado em 1993 com Mighty
Morphins Power Rangers.
Depois
que viu Power Rangers bombar, Saban e seu então sócio, o israelense Shuki Levy
resolveram alçar outros voos, desta vez
adaptando outra franquia japonesa de tokusatsu que foi a Metal Hero.
Depois
que dei uma recente revisitada na série, acompanhando todos os 50 episódios da primeira temporada
que esses eu já tinha visto e revisto bastante quando eu era criança, na época que passava nas manhãs da Rede Globo na antiga grade infantil da TV
Colosso(1993-1997) hoje ocupada por programa de variedades lá pelos
idos de 1995/1996, e os 40 episódios da
segunda temporada onde que essa eu não acompanhei antes, porque ela teve uma
passagem muito obscura aqui no Brasil, antes que saísse do catálogo da Netflix. Pude
constatar com outros olhos, as razões do porquê de ao contrário de Power Rangers ter conseguido
vingar como adaptação de Super Sentai ao Ocidente e virar uma grande marca, o mesmo não se pode dizer em relação a VR
Troopers como outra tentativa de adaptação de outra franquia de tokusatsu para o Ocidente.
O
enredo da série girava em torno de Ryan Steele(Brad Hawkins), um jovem atleta
faixa preta no karaté da Escola de Artes Marciais Tao Dojo, administrada por
Tao Chong(Richard Rabago), é lá que ele também se torna o instrutor da academia
junto de seus inseparáveis amigos JB Reese(Michael Bacon, no IMDB seu nome aparece registrado como Michael Hollander) e
Kaitilin Star(Sara Brown), que é jornalista do importante jornal de maior
circulação da cidade fictícia de
CrossWorld, o Daily Voice Underground. Nesse
jornal, ela trabalha com Woody Stoker( Michael Sorich) seu excêntrico editor-chefe
e o Percival “Percy” Rooney III(Aaron Pruner) um sujeito completamente esnobe,
egocêntrico por ser sobrinho do Prefeito
de CroosWorld e com um comportamento bastante
pitoresco, que em qualquer situação se acha
bom, mas que no fundo não passava de um
sujeito patético, vivia espirrando por ser alérgico a qualquer coisa, com um ar bastante dissimulado de ficar no pé
da Kaitilin ao deixar seu evidente ar de inveja com ela, pelas boas matérias
que ela escrevia para o jornal.
Um
dia Ryan e seus amigos, recebem uma mensagem eletrônica misteriosa no
computador do Tao Dojo, que foi do Professor Horátio Hart(Julian Combs) para
irem até o laboratório dele e lá, descobrem que ele um programa de computador foi
quem os recrutou para uma grande batalha do mundo virtual movida por um ser maligno chamado
Grimlord que é o alter ego do ganancioso e prepotente empresário Karl Ziktor(Gardner
Baldwin) dono das Industrias Ziktor, que ao pegar a mão numa bola de cristal e
diz: “Poder da escuridão venha a mim, leve me de volta a realidade virtual”.
Onde se transforma no horroroso, asqueroso, nojento e crápula do Grimlord-Mestre do Mundo Virtual, onde tem
entre seus asseclas General Ivar e General Icebot, que a cada episódio com um
plano mirabolante envia sempre um mutante ou mesmo mechanoide para dominar o
mundo real e o virtual e sempre envia seus soldados skugs para enfrentar os
Troopers e na segunda temporada teve o incremento da em outro cenário do
Oraclon, Doomaster, Despera e os Skugs
mudam de forma com as cinco guerreiras aumentando ainda mais a ameaça.
É
a partir daí que terá início a jornada dos Troopers para combater as forças do
mal, e especialmente Ryan terá motivos pessoais para isso, já que ele descobre logo
no primeiro episódio que seu pai, o cientista Tyler Steele(David Carr), que
havia sumido da vida dele desde quando
era criança foi quem desenvolveu o programa virtual junto com o
Professor Hart da Realidade Virtual e ao longo dos episódio descobre que ele foi sequestrado por Grimlord.
Uma
das razões que posso argumentar, que me fez observar depois dessa revisitada na
série após muitos anos que havia visto na infância pela TV Globo lá pela
segunda metade da década de 1990, é no
quanto pude constatar como ela ao contrário de Power Rangers que conseguiu
vingar ao adaptar os tokusatsu da franquia super sentai originais japoneses para o público do Ocidente e se estabelecer como uma grande marca
mundial, VR Troopers no caso não conseguiu obter esse feito com relação a adaptar a franquia
Metal Hero para o Ocidente. E um dos principais problemas que posso destacar,
está no fato de que a Saban teve uma ideia duvidosa de não respeitar como um
dos principais pontos característicos
que envolvia a essência dessa franquia é
que nelas, os heróis enfrentavam as ameaças dos diabólicos impérios malignos
sejam vindos do espaço ou mesmo do subterrâneo, como seres solitários. E não em
equipe, como acabou acontecendo em relação a VR Troopers.
Originalmente,
a Saban tinha pensado em fazer apenas uma adaptação de Metalder, onde até
gravou um episódio piloto, onde a proposta da estética se mostrava bem
diferente do tom que foi tomado na série. Nesse episódio piloto, cujo nome
original era Cybertron, que depois da
Saban verificar que o registro do nome já era da propriedade intelectual da Hasbro,
fabricante de brinquedos, dona da linha Transformers,
que não por acaso comprou há dois anos da Saban a franquia dos Power Rangers.
Nesse
episódio piloto, onde o protagonista se chamava Adam Steele e foi interpretado primeiramente Jason David
Frank, o Tommy Oliver, Ranger Verde de Power Rangers, mostrou preservando
algumas características que foram mantidas na série, como ele encarando um torneio de artes marciais, onde ele é
instruído pelo Tao, enfrenta um adversário interpretado por Brad Hawkins que
acabou com o seu papel com o nome alterado para Ryan Steele. O curioso é que o Tao passaria a figurar como seu mentor
e sabia do segredo de Grimlord, que também foi mantido a característica dele
ser um alter ego humano como era em Metalder e seus asseclas, e como em Metalder, eles também mantiveram a
figura do cachorro falante que na série virou o Jeb. Companheiro de Ryan desde
que ele era uma criança e ele um filhote. Praticamente seria uma versão
solitária dele e que também existia na contraparte japonesa. O episódio piloto não carregava abordagem
envolvendo Realidade Virtual que era de onde vinha os seus poderes e onde vinha
a ameaça do Grimlord que na contraparte japonesa de Metalder era inspirado no Imperador Neroz, como acabou
resultando depois, o que provavelmente deve explicar o porquê da ideia de
juntá-lo a Spielvan já que achando que um herói solitário poderia não ser muito
rentável, principalmente para atrair o marketing do licenciamento dos
brinquedos como ocorria a Power Rangers e para aproveitar a onda moderna do
desenvolvimento tecnológico da Realidade Virtual que ainda estava longe de
virar uma realidade como agora. Ainda mais se a gente for lembrar que ainda
vivíamos na fase pré-midia digital, trazia uma estética futurista. Com as
modificações, resultou de Jason Frank
desistir da série e retornar a Power Rangers reprisando o papel do Tommy agora
assumindo o posto de Ranger Branco inspirado em Kiba Ranger na contraparte
japonesa de Gosei Sentai Dairanger(Japão,1993-1994) inserido na
segunda temporada de Power Rangers. E Brad Hawkins acabou assumindo o
protagonismo da série.
A
ideia duvidosa da Saban de adaptar duas
diferentes séries de tokusatsu
japonesas, três com o enxerto de Shaider a partir da segunda temporada, as
mesclando, unindo, cuja características são de heróis solitários para formarem
uma equipe trouxe uma grande estranheza ao público. E esta
estranheza ao revisita-la pude constatar pela forma como ficou estruturada e remendada sua estética, onde
por exemplo, como a ideia inicial era só adaptar Metalder, todo o ponto central
da trama girava em torno de Ryan Steele, que quando se transformava na primeira
temporada virava a armadura de Metalder. Isso ficava evidente ao longo dos 90
episódios que a série contou em suas duas temporadas, quando a cada episódio nós telespectadores
erámos lembrados disso, onde ao iniciar vinha a introdução de Ryan fazendo uma
narrativa em off lembrando de sua infância treinando Karatê com seu pai em um
templo japonês com suas mensagens motivacionais que seu pai ensinou para nos inserir a situação da ameaça
provocada por Grimlord invocando o monstro do dia, para botar em prática seu
plano mirabolante de dominar a humanidade no mundo real e os Troopers tentarem impedir e ao terminar o
episódio mostra Ryan retornando aquele lugar de sua infância com a narrativa em
off provando como a ótica da série centrava em torno dele narrando na primeira pessoa. Isso porque tudo foi ali consequência do resultado da pesquisa de
realidade virtual desenvolvida por seu pai
Tyler muitos anos atrás, que ele até então achava que estava morto, mas, na verdade havia sido
capturado e mantido refém pelo Grimlord. E o Professor Hart sabia disso, porque
muitos anos antes dele virar uma máquina, vivendo numa tela de computador, ele ajudou seu pai na pesquisa
quando ainda era ser humano e que só no episódio em que os Troopers vão atrás
de uma caixa que mostrava a real identidade de Grimlord é que soubemos quando ele virou máquina, quando foi morto por Grimlord, onde Tyler
transferiu sua consciência cerebral e o transformou numa inteligência
artificial.
Por
Ryan ser o ponto central do mote da série, era notável que seus dois
companheiros Troopers, o J.B Resse e a
Kaitilin Star ficavam deslocados, desfocados da obra, mesmo dividindo o protagonismo com o Ryan. Mais
parecendo figurarem como se fossem os sidekicks de Ryan, o equivalente a se Ryan
fosse o Batman, J.B. seria o Robin e Kaitilin seria a Batgirl.
Fora
que do mesmo jeito como ocorria em Power
Rangers em seus primeiros anos, a Saban para compensar a carência de
recursos, inseriu materiais já prontos das séries japonesas, como bem o próprio Haim
Saban descreveu no episódio da série
documental Brinquedos que Marcaram Época. No caso
de Power Rangers ele inseriu muito nas cenas de batalhas deles transformados e
com os mechas com os monstros agigantados. Em relação a Power Rangers, não se
percebia tanto destoamento da qualidade de imagem das películas originais japonesas
remendadas porque como a primeira série
super sentai Zyuranger era uma produção
recente de 1992, e Power Rangers veio em 1993 e logo depois em 1994 fora
inserido os mechas e os monstros de Dairanger e com Tommy retornando como o
Ranger Branco inspirado no Kiba Ranger com sua adaga falante, a estranheza não
era muito perceptível, já com relação a
essa adaptação de três séries da
franquia metal hero que não tinham nada em comum, a não ser por serem da década
de 1980, já deixavam evidente como a qualidade envelhecida das imagens das películas japonesas, principalmente nas
cenas de batalhas na Pedreira em Yorii, próximo a Provincia de Saitama onde
costumava servir de locação para as produções da Toei Company. Já mostrava uma
forte estranheza nessa colcha de retalhos que a Saban fazia. Confesso que em
alguns momentos me deu uma vergonha alheia, ver por exemplo nessas cenas a
inserção de diálogos que não precisaria necessariamente ter. Principalmente
porque como eu já tinha visto originalmente Spielvan quando passou
originalmente na extinta Rede Manchete no começo dos anos 1990, isto lá para 1991, com o nome de Jaspion
2, uma sugestão da então distribuidora Everest Vídeo, uma das
três adaptadas por VR Troopers, não acompanhei Metalder que tinha passado na
Band na mesma época de Spielvan, lembro vagamente de ver a série super sentai Gigantes
Guerreiros Google Five(Dai Sentai Google Five, Japão, 1982-1983). E lembro vagamente de ter visto uns dois
episódios de Shaider quando passou originalmente na Rede Globo de forma bem
obscura. Como eu ainda tinha Spielvan fresco na memória achava muito estranho
observar como ele tinha pouco destaque na série, representado pelo J.B e a
Kaitilin. Só aparecer alguns mechanoides, o General Deslock virar Ivar e Dr.
Bio virar Icebot e os Crown virarem Skugs(que parecia soar com Skank, nome da
famosa banda de rock-reggae brasileira), que quando se tocavam provocavam
choque e sumiam, confesso que até achava divertido apesar da estranheza. Se
para nós brasileiros que já havíamos acompanhados as versões originais
japonesas escolhidas para serem
adaptadas pela Saban, já achamos estranho os remendos da série, imagine o
público americano que não tinha visto antes estas séries originais que nunca
tinham passado em solo americano. Fora
que o modelo do design das armaduras feitas para serem gravadas na série
destoava muito das versões japonesas que eram inseridas nas cenas de batalha.
Como o capacete de J.B. parecer um objeto oval, a armadura da Katilin explorou
muito exageradamente os tons anatômicos dos seus seios e da sua bunda a ponto dela parecer um
tanto gordinha e as armaduras de Ryan também destoavam demais das versões de
Metalder e Shaider, e o que falar do
Grimlard vestido de forma carnavalesca quando muda de localização no mundo
virtual.
Pelo
menos o trio protagonista mostrou ter dado bem conta do recado nos papeis que
lhe couberam representar, principalmente pelo carisma mostrado em cena. Defendendo bem em cena.
Brad
Hawkins na pele do Ryan Steele mostrou muita segurança no papel, mesmo com a pouco idade que tinha na época com
apenas 18 anos, ao desempenhar o
personagem que era todo o ponto central da série, em todas as suas camadas e
nuances. Desde a mais dramática dele lidando com o drama de ter crescido
ausente de seu pai que foi capturado por Grimlord, e a série não mostrou nada sobre sua mãe, mas se deduz que ela morreu quando
ele era bem pequeno, devia nem ter um ano,
e não chegou a conhece-la ou seja um órfão, uma característica que
foi bem trabalhada dentro da fórmula
campbeliana da Jornada do Herói, até mesmo a mais cômica quando ele perde a
paciência com o seu cachorro Jeb fazendo umas trapalhadas. Michael Bacon ou
Michael Hollander como aparece registrado o seu nome no IMDB, mas que na série
assinava com este codinome representando o J.B. Reese, na época com apenas 27 anos, sendo nove mais
velho que Brad Hawkins também demonstrou uma boa defesa do seu papel que
dividia o protagonismo com o Ryan, mesmo ele tecnicamente figurando como um
deslocado, um desfocado da história, já que o ponto central da obra era sempre
o Ryan. Ou seja, ficava muito a sombra dele, mesmo assim o ator conseguiu
defender o seu papel ao dar uns toques nerds entendendo de informática ao personagem sem fazer ele parecer um
estereotipo abobalhado e infatiloide e o representou bem como um companheiro
inseparável do Ryan como se fosse uma espécie de irmão que ele nunca teve,
serviu bem para essa função.
E
Sara Brown na pele da Kaitilin Star, também mostrou uma ótima defesa do papel,
mesmo na época estando com apenas 19 anos e mantinha uma relação amorosa com um
dos produtores da série Shuki Levy. Com quem até casou e tiveram um filho. Mesmo
a personagem sofrendo do mesmo problema do J.B. de ficar bastante deslocada e
desfocada da trama central que girava em torno do Ryan. Porém, a atriz mostrou
um bom desempenho em dar uma outra função não só como companheira Trooper do Ryan, mas também
como jornalista do importante jornal em circulação de CrossWorld, o Daily Voice
UnderGround. Com um perfil de intrépida repórter equivalente a Lois Lane nas
histórias do Superman.
A
maneira como a sua profissão foi
retratada na série representou bem um detalhe do quanto que a estética
da obra ficou bastante datada. Principalmente
pela forma como o jornal Daily Voice Underground, ainda trabalhava como mídia
impressa, naquele período onde o recurso
da internet como instrumento de uso comum
estava ainda engatinhado, não
eram todas as residências que tinham os acessos fáceis e ela era uso mais
restrito a algumas camadas. Fora que por exemplo, tanto nas cenas do Jornal
Daily Voice Underground, quanto no Tao Dojo e no Laboratório do Professor Hart
é bem perceptível ser mostrado eles mexendo
com os modelos de computadores de telas
quadradas com tubo polegadas, que hoje em dia ficaram bastante obsoletos e foi
bem na época do surgimento do famoso modelo Windows 95, fora o uso de pagers para
se comunicarem numa época em que os celulares ainda eram em formato de telhas. E arquivando em disquetes. E como a internet ainda engatinhando, é até
perdoável o fato de que o Jornal onde Kaitilin trabalhou na série ainda não
tenha aderido a formação da mídia digital criando uma página do site e usado o
método tradicional como mídia física. Nesses tempos em que ao chegarmos a terceira década do século 21, as mídias
digitais tem sido mais dominantes do que as físicas, a ponto de muitos jornais
fecharem, editoras entrarem em crise como aconteceu recentemente com o fechamento
da gráfica própria da Editora Abril, a mais importante empresa de editoração
gráfica brasileira que agora passou a continuar o seu trabalho de impressão das
poucas revistas que tem em seu catálogo em gráficas terceirizadas. E fora
algumas vestimentas muito bregas.
Além
desse trio protagonista, também merece destaque de minha parte as participações
secundárias de Michael Sorich como Woody
Stocker e Aaron Pruner como Percy Rooney. Os dois alívios cômicos da série que
trabalham no jornal Daily Voice Underground de Crossworld. É bem compreensível
que a Saban criou essa dupla cômica para equivaler ao que estava dando certo em
Power Rangers com a dupla Bulk e Skull que roubavam as cenas quando implicavam
com os rangers na escola de Alameda dos Anjos fazendo bullying com aquele jeito
de vestir bem rebelde grunge. Algo que
no papel parecia uma maravilha, na execução falhou miseravelmente. Principalmente o Percy que era chato demais,
eu já não simpatizava muito com este personagem
desagradável pra cacete, na época que eu acompanhava a série na Globo
lá pela década de 1990, e continuei não gostando do Percy depois dessa minha revisitada
nela na Netflix. Aaron Pruner que representou o personagem então com
apenas 18 anos de idade na época, até que desempenhou razoavelmente bem o personagem no humor mais físico, bem
caracteristicamente circense, porém o
texto não o ajudou muito nos diálogos bastantes patéticos onde ele falava
coisas muito afetadas com aquele perfil egocêntrico dele, que saia sem muito
timming mostrando como o humor dele era bastante sem função e deslocado da trama. A
maneira afetada dele agir muito abobalhado e patético, fazia ele ficar no
típico estereotipo de nerd com óculos e com vestir de forma elegante. O nível
da chatice do quanto Percy para mim era
bastante irritante e desagradável, pode ser comparável ao Scooby-Loo a verão
mirim do Scooby-Doo ou mesmo como aconteceu posteriormente com o Jar Jar
Binks em Star Wars-Episódio 1: A Ameaça Fantasma(Star Wars:
Episode I – The Phantom Menace,EUA,1999). Já Michael Sorich como Woody não
sofreu tanto desse problema mesmo ele sendo um editor-chefe excêntrico, pelo
menos ele sabia trabalhar o timming cômico do personagem, e sabia o momento certo
dele agir de forma mais séria, principalmente quando queria convencer a
Kaitilin a escrever matérias que ela não gostava, coisa que faltou demais no
Percy.
A
série também contou em seu elenco com Julian Combs como o Professor Hart, que
representou bem o seu papel na série
procurando colocar um tom mais humanizado e emotivo ao personagem mesmo
ele sendo uma inteligência artificial preso numa tela de computador, que teve sua vida eternizada do seu antigo cérebro humano depois que perdeu a
vida ao ser assassinado pelo Grimlord, e isto graças a Tyler Steele de quem no
passado quando era humano ainda colaborou em suas pesquisas para o
desenvolvimento da realidade virtual.
Outras
menções do elenco vai para David Carr
fazendo participações pontuais como o Tyler Steele, pai do protagonista, que
desempenhou bem o papel, apesar de eu achar o seu rosto muito sem expressão e
um tanto apático. Pareceu demonstrar uma emoção muito fria.
Também
mencionar e destacar as participações de
dois atores desse elenco que já não se encontram mais vivos nesse plano físico,
partiram para o plano espiritual que são Gardner Baldwin como Karl
Ziktor/Grimlord e Richard Rabago como Tao.
Gardner
Baldwin ficou incrível como o
antagonista Karl Ziktor/Grimlord na série, ele que faleceu em 2011 aos 60 anos
esteve excelente na série. Principalmente na forma como ele representando o prepotente
e crápula do empresário Karl Ziktor, dono das Industrias Ziktor em CroosWorld.
Sua magnifica representação e entrega ao
papel principalmente na maneira ameaçadora e intimidadora de olhar, e soltando umas constantes risadas
secas e diabólicas, mostravam o nível da megalomania sem limites que ele tinha,
fora a sua excentricidade exótica dele ter como bichinho de estimação uma
iguana que ele batizou de Juliette. E
mesmo quando vira o asqueroso Grimlord onde apenas faz um papel brilhante
emprestando a voz.
Já
Richard Rabago, que representou o Tao na série, que faleceu em 2012, com 69
anos. Nascido no Havaí, de descendência nipônica, do mesmo jeito que seu
personagem na série, Rabago sempre foi praticante das artes marciais, mostrando
inclusive uma ótima verossimilhança ao papel. Ele defendeu bem o papel de instrutor
dos Troopers, sem perceber que eram os Troopers. Visto que como originalmente o
personagem tinha sido pensado para ser o mentor de Ryan Steele quando a série
estava planejada apenas para ser uma adaptação de Metalder, para não desperdiçado,
já que a mentoria acabou ficando com o Professor Hart, o colocaram bem nesta função de instruir os
Troopers com as artes marciais.
Confesso
em um balanço geral, que ao revisitar esta série depois de muitos anos,
constatar com outros olhos que assim até que achei divertido mesmo ficando ruim
e estranhando demais o tipo da estética e rindo de nervoso de momentos constrangedores.
Só lamento não terem mantido o áudio com o casting das vozes dubladas pelo antigo estúdio de
dublagem do Rio de Janeiro, a Herbert
Richers que foi exibida na saudosa manhãs
da Rede Globo, nessa versão dublada
exibida pela Netflix, a dublagem foi produzida no outro estúdio de dublagem também
do Rio de Janeiro como a Herbert Richers, que no caso aqui foi na Gemini Mídia,
onde todas as vozes foram alteradas. Desde os heróis até mesmo os aliados e
vilões da trama. Uma pena.
Enfim,
posso simplesmente descrever que revisitar VR Troopers pela Netflix me proporcionou um momento nostálgico bastante
vergonhoso.
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